Cistus ladanifer L., vulgarmente conhecida por Esteva, é um arbusto da família Cistaceae muito abundante em Portugal, distribuída de norte a sul do país e com grande incidência no Alentejo. Nutricionalmente, a Esteva é considerada como um alimento desequilibrado, com moderados teores de compostos parietais, baixos teores de proteína bruta, elevados níveis de taninos condensados e baixa digestibilidade da matéria orgânica. No entanto a Esteva pode ser utilizada na alimentação de ruminantes desde que associada a outros recursos alimentares que complementem os seus desequilíbrios nutricionais, constituindo uma importante fonte de compostos bioativos, uma vez que contém altos níveis de diferentes compostos fenólicos, incluindo taninos condensados.
Nos últimos anos, temos vindo a assistir à diminuição dos efetivos ovinos e caprinos no Alentejo, a perda de competitividade das explorações, decorrentes dos elevados custos com os fatores de produção é um dos principais motivos de abandono desta atividade e consequente redução dos efetivos. O aumento do custo com a alimentação, nomeadamente o aumento de preço das matérias-primas, tem causado grande constrangimento neste setor. Políticas mundiais têm incentivado o uso de recursos alimentares alternativos aos cereais e a outras matérias-primas normalmente utilizadas, nomeadamente a utilização de plantas arbóreas e arbustivas e de subprodutos da agro-indústria. A região mediterrânica apresenta uma grande biodiversidade de recursos arbóreos e arbustivos e uma intensa produção agro-industrial geradora de subprodutos passíveis de serem utilizados pelos pequenos ruminantes.
A utilização de plantas arbustivas na alimentação de ruminantes tem sido explorada como forma de reduzir os custos com a alimentação, mas também como forma de proporcionar benefícios para a saúde e bem-estar do animal e para a qualidade dos seus produtos. Trabalhos anteriores da equipa demonstraram que a incorporação de Esteva na dieta de borregos permite melhorar a estabilidade oxidativa de carnes, incluindo de carnes enriquecidas em ácidos gordos polinsaturados, e por isso mais suscetíveis à oxidação lipídica. Também, a inclusão de Esteva numa dieta á base de luzerna suplementada com uma mistura de óleos vegetais ricos em ácidos gordos polinsaturados levou a uma melhoria do valor nutricional da fração lipídica da carne de borrego, aumentando o seu teor em ácido ruménico, um isómero conjugado do ácido linoleico (CLA), ao qual têm sido atribuídas inúmeras propriedades benéficas para a saúde. Apesar do baixo valor nutricional da esteva, não se verificou qualquer efeito depreciativo nem no desempenho produtivo nem nas propriedades sensoriais da carne de borregos decorrentes da inclusão de Esteva nas dietas. Outros estudos da nossa equipa demonstraram também que o tratamento da proteína da dieta com um extrato de taninos de Esteva permite reduzir a degradabilidade ruminal da proteína e aumentar a quantidade de proteína absorvida no intestino delgado, sem que exista depreciação da degradabilidade da matéria seca ou da digestibilidade total aparente da dieta.
Assim, este projeto tem por objetivo desenvolver um conjunto de estudos, a fim de estabelecer as bases científicas e tecnológicas que suportem a implementação de estratégias nutricionais para pequenos ruminantes, tendo por base a incorporação de Esteva ou de seus constituintes nas dietas, que contribuíram para aumentar a competitividade do sector da produção de ovinos e caprinos no Alentejo, reduzindo os custos com a alimentação, melhorando a saúde e o bem-estar animal e a qualidade de seus produtos. Além disso, espera-se que o uso de Esteva ou dos seus taninos na alimentação de ruminantes possa reduzir o impacto ambiental destes sistemas de produção, contribuindo assim para sistemas de produção animal ambientalmente sustentáveis.